O Diálogo entre a Escola e a Família: O Colégio Progresso a partir de 1963
Nosso último artigo procurou apresentar algumas características da Renovação Educacional vivenciada pelo Colégio Progresso na década de 60, através de alguns documentos encontrados na organização de acervo histórico. A Renovação Educacional foi realizada por uma equipe de professoras que se mostrava preocupada com a falta de criatividade no corpo docente e discente. Diante desta realidade, várias mudanças foram propostas e colocadas em prática, centrando as atenções no aluno, principal interessado em sua formação. Com a Renovação ele tornar-se-ia mais ativo, procurando construir seus conhecimentos com o auxílio do professor, que lhe proporia desafios. Estas modificações na forma de se pensar e fazer o ensino se mostravam bastante ousadas para a época, principalmente no período da ditadura militar.
A Renovação Educacional certamente deixou muitas marcas nas gerações que formou e também no Colégio Progresso. Algumas destas marcas estão nos documentos desta época, que foram sendo guardados ao longo de algumas décadas e agora estamos organizando. As circulares e comunicados aos pais são amostras bastante interessantes deste período.
O trabalho com os pais se deu de forma gradual, como procuram indicar alguns textos que tratam da Renovação Educacional, já que no início as atenções se voltavam mais para o aluno e a atuação do professor. O Colégio se mostrava disposto a uma aproximação aos pais e os comunicados das décadas de 60 e 70 trazem bem esta preocupação.
A linguagem destes documentos é objetiva e muito próxima da oralidade, transformando-se em uma “conversa” com os pais. Através destes comunicados a escola buscava prestar contas do que era realizado com os alunos, explicando atividades e informando sobre os eventos organizados pela escola.
Uma circular muito original de 1967 esclarecia os pais sobre algumas atitudes inadequadas das meninas de uma terceira série. As meninas teriam soltado bombinhas na sala, sujado as cortinas com tinta e estragado os apagadores da sala. A decisão tomada foi a de discutir o acontecido com as alunas e quem seria responsabilizado por estes atos. As próprias alunas, depois de muita discussão e reflexão, acabaram por considerar responsáveis todas aquelas que se envolveram no acontecido, inclusive aquelas que teriam aplaudido e incentivado as travessuras. A punição foi a das alunas ficarem em casa, em determinados dias da semana. Segundo a circular, nenhuma aluna se revoltou, por considerar-se digna da punição e responsável pelos seus atos.
A direção também procurava reunir pais e professores, a fim de apresentar a proposta pedagógica da escola para cada série, além de convidá-los para atividades diversas. Estes comunicados não nos permitem saber como os pais os recebiam, mas notamos o real esforço do Colégio em manter o canal aberto com eles.
A comunicação com os pais é uma tarefa necessária e importante a ser realizada pela instituição escolar, pois ambas as partes têm o interesse comum na formação de seus filhos/alunos. Além disso, o chamado à participação na vida escolar é uma forma de estimular, mais uma vez, uma vivência democrática que inspira a comunidade a opinar e discutir questões, lutando pelos seus direitos, incluindo aí uma educação de qualidade.
Esta atitude tão inovadora e original por parte do Colégio, ainda mais durante a ditadura militar, mostra o quanto o passado pode nos inspirar para construirmos o presente e refletirmos sobre o que queremos para o futuro.
voltar