Breves reflexões acerca da Formação Feminina
Surpreendo-me mais uma vez com alguns dos materiais que encontro em meio à organização geral do acervo. Eis um dos motivos que tornam este trabalho tão cativante e apaixonante. Entre os documentos do Grêmio de Sociologia “Dona Emília de Paiva Meira”, fundado 1938, em homenagem à diretora que tornara o sonho progressista possível, encontro uma tese de sociologia sobre A Mulher e o Casamento.
O interessantíssimo texto, que provavelmente data dos anos 40 ou 50, procura convencer o leitor sobre a importância do casamento para a vida da mulher. A autora procura mostrar que a base da sociedade está na família, fundada no matrimônio sólido e duradouro. Através de um matrimônio e uma família bem constituída e estável a sociedade também poderia sê-lo. Nesta empreitada caberia à mulher o papel de sustentáculo da família, zelando pela harmonia do lar, pelo bem-estar do marido e pela formação de seus filhos. A perfeita harmonia no lar seria possível apenas através do amor, que une os cônjuges e que asseguraria a eternidade deste sacramento que é o matrimônio. Este amor pressupõe a sujeição da mulher e a superioridade do marido, que o autor ressalta que não deve ser violenta, mas que deve guiar a esposa.
A autora da tese conclui que o casamento implica em diversas responsabilidades, ao lado das alegrias. A mulher precisa, portanto, sentir-se realmente pronta e preparada ao contrair o matrimônio, posto que é eterno e de cuja felicidade também depende a sociedade como um todo.
Chama a atenção a leitura deste texto, pois a autora defende com veemência o matrimônio e o papel passivo que a mulher desempenha nele. Atualmente as mulheres vêm lutando por maiores direitos e contra o seu papel submisso na sociedade. Mas em outros tempos pensava-se na formação da mulher para desempenhar seus papéis como mãe e esposa, os quais, como nos mostrou a autora da tese, não são dos mais simples.
A formação escolar tinha, portanto, a importante função de preparar as moças para desempenharem seu papel na sociedade. A mulher deveria ser uma perfeita mãe e esposa, obedecendo ao seu marido e educando seus filhos. Nos eventos sociais ela também deveria demonstrar erudição, através de seus conhecimentos sobre música e línguas estrangeiras. Vale lembrar que esta formação mais sofisticada destinava-se às moças das elites, que tinham interesse na submissão e na obediência do sexo feminino.
No Colégio Progresso as meninas e moças tinham acesso a uma formação bastante ampla, voltada para diversas áreas, tanto nas ciências, quanto nas artes. As alunas contavam com laboratórios de ciências, sala com mapas para geografia, projetor de cinema e salas de artes manuais para aprenderem de forma mais agradável.
Existia uma preocupação com os estudos das meninas, sem abrir mão da verdadeira preocupação das elites com as mulheres, que eram suas funções no lar e na família. Para isso a formação moral era bastante importante e a tese acima mencionada destaca várias vezes o caráter sagrado do matrimônio. A religião perpassava a educação destas moças, que deviam ser obedientes e virtuosas.
Nota-se como vários elementos faziam parte da formação feminina naquela época e cada qual tinha sua devida importância. Não menos complexa é a tarefa de formar as atuais gerações de meninos e meninas para os desafios do nosso mundo. Talvez o passado nos ajude a iluminar o presente e buscar novos caminhos na educação. Eis um dos motivos pelos quais estamos organizando este acervo do Colégio Progresso.
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